sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Janelas para o Mundo

 

     _ Mãe, para o que é que estou aprendendo isto? Onde é que eu vou usar esse negócio?
     Se os seus filhos vivem lhe perguntando isso, você já sabe que há várias respostas. Uma das minhas favoritas é:
     _ No mínimo, você vai usar isso quando, no futuro, o seu próprio filho estiver fazendo a lição de casa e você precisar ajudá-lo. Só por isso, já seria o bastante.
     Afinal, nos empenhamos durante a vida inteira para poder dar o melhor aos nossos filhos. De qualquer modo, tenho a convicção de que tudo que aprendemos vamos acabar usando, de um jeito, ou de outro. Quando você menos esperar, algo que já aprendeu e parecia desnecessário acabará sendo útil quando mais precisar. Isso me lembra da vez em que vi o ótimo filme “Sim Senhor!”, de Jim Carrey, em que uma das várias partes cômicas foi bem assim. Depois de um curso de autoajuda que o ensinou a dizer "sim" para tudo (pois era negativista demais antes), entre outras coisas, o protagonista se matriculou em cursos dos mais inusitados. Apesar de aprender também que deve haver um equilíbrio em tudo, todos esses cursos serviram ao menos para tirá-lo de vários apuros.
     Eu mesma, na minha profissão, vivo tendo de estudar, pesquisar e aprender coisas que, em circunstâncias normais, provavelmente ignoraria. Afinal, como sempre digo, o tradutor tem de ser também um pesquisador. Além disso, tudo que aprendi na escola, na faculdade e na minha experiência de vida sempre me foi útil. Por exemplo, sempre gostei de português e, na minha profissão, o português é a minha ferramenta de trabalho mais importante porque é, através dele, que chego ao resultado final do meu trabalho. A história e a geografia também me ajudam muito porque faço traduções ambientadas em outras épocas, ou países. Cultura geral nem se fala... até mesmo a tal "cultura inútil" serve às vezes.
     O próprio intelecto da gente se transforma num banco de dados de onde retiramos o que precisamos em determinada situação, ou, mínimo, nos mostra o caminho para encontrar tais dados. Uso a matemática para conversões de pesos, medidas, etc., para cálculos e programação de laudas diárias. Com a informática, tiro o máximo de proveito dos recursos e ferramentas disponíveis hoje em dia para trabalhar. Tudo que aprendi como secretária executiva me ajuda na organização geral, na administração do tempo e assim por diante... Aliás, continuo usando um lema que me era muito útil quando secretária: Nunca responder "não sei", mas "vou me informar a respeito". E, naturalmente, toda a bagagem de conhecimento é indispensável para um escritor.
     Não é apenas no trabalho usamos tudo o que aprendemos um dia, ou que continuamos a aprender, pois acho que o ser humano deve e precisa viver em constante aprendizado. Na nossa vida social, quanto mais bem informados estivermos, mais preparados ficaremos para interagir com o mundo e as pessoas. Com conhecimento _ e não pedantismo _, você se torna uma pessoa cada vez mais interessante _ para si mesmo e para os demais. E se torna também um cidadão ciente de seus direitos e deveres, pronto para contribuir com a sociedade de modo geral e usufruir também de seus benefícios.
     Em termos de saúde, aprender também é benéfico; estimula várias áreas de seu cérebro. A cada vez que você aprende algo, seja o que for, o seu cérebro está fazendo sinápses, ou seja novas redes de neurônios estão se agrupando, o que acaba compensando a perda natural de neurônios que se dá desde que nascemos e se acentua com a idade. E acredito que nunca é tarde para aprender, desde que você deseje, não importando para o que ache que vai ou não usar esse conhecimento.
     Espiritualmente, também acredito que o que aprendemos acaba, de algum jeito, se incorporando a nós. Ninguém conhece exatamente os mistérios do mundo, mas, a meu ver, estamos na Terra para aprimorar, "lapidar" a nossa alma; para nos tornarmos seres melhores. Daqui nada se leva, mas acredito que o conhecimento, sim, que ele passa a fazer parte de nós, como, se algum modo, mente e alma tivessem uma ligação.

     Além de várias razões até um tanto subjetivas, o que aprendemos é usado de maneira prática, faz parte da nossa vida pessoal e profissional. Só não acho que exista essa coisa de conhecimento demais, desnecessário. "O saber não ocupa lugar”, como diz uma amiga minha, lembrando-se das palavras do próprio e saudoso pai. Concordo. Assim, quer você seja mestre, ou aprendiz, lembre-se que, enquanto estamos aprendendo, estamos vivendo.