_
Mãe, para o que é que estou aprendendo isto? Onde é que eu vou usar esse
negócio?
Se
os seus filhos vivem lhe perguntando isso, você já sabe que há várias
respostas. Uma das minhas favoritas é:
_
No mínimo, você vai usar isso quando, no futuro, o seu próprio filho estiver
fazendo a lição de casa e você precisar ajudá-lo. Só por isso, já seria o bastante.
Afinal, nos empenhamos durante a vida inteira para poder dar o melhor
aos nossos filhos. De qualquer modo, tenho a convicção de que tudo que
aprendemos vamos acabar usando, de um jeito, ou de outro. Quando você menos
esperar, algo que já aprendeu e parecia desnecessário acabará sendo útil quando
mais precisar. Isso me lembra da vez em que vi o ótimo filme “Sim Senhor!”, de Jim Carrey, em que uma das várias
partes cômicas foi bem assim. Depois de um curso de autoajuda que o ensinou a
dizer "sim" para tudo (pois era negativista demais antes), entre
outras coisas, o protagonista se matriculou em cursos dos mais inusitados.
Apesar de aprender também que deve haver um equilíbrio em tudo, todos esses
cursos serviram ao menos para tirá-lo de vários apuros.
Eu
mesma, na minha profissão, vivo tendo de estudar, pesquisar e aprender coisas
que, em circunstâncias normais, provavelmente ignoraria. Afinal, como sempre
digo, o tradutor tem de ser também um pesquisador. Além disso, tudo que aprendi
na escola, na faculdade e na minha experiência de vida sempre me foi útil. Por
exemplo, sempre gostei de português e, na minha profissão, o português é a
minha ferramenta de trabalho mais importante porque é, através dele, que chego
ao resultado final do meu trabalho. A história e a geografia também me ajudam
muito porque faço traduções ambientadas em outras épocas, ou países. Cultura
geral nem se fala... até mesmo a tal "cultura inútil" serve às vezes.
O
próprio intelecto da gente se transforma num banco de dados de onde retiramos o
que precisamos em determinada situação, ou, mínimo, nos mostra o caminho para
encontrar tais dados. Uso a matemática para conversões de pesos, medidas, etc.,
para cálculos e programação de laudas diárias. Com a informática, tiro o máximo
de proveito dos recursos e ferramentas disponíveis hoje em dia para trabalhar.
Tudo que aprendi como secretária executiva me ajuda na organização geral, na
administração do tempo e assim por diante... Aliás, continuo usando um lema que
me era muito útil quando secretária: Nunca responder "não sei", mas
"vou me informar a respeito". E, naturalmente, toda a bagagem de
conhecimento é indispensável para um escritor.
Não
é apenas no trabalho usamos tudo o que aprendemos um dia, ou que continuamos a aprender,
pois acho que o ser humano deve e precisa viver em constante aprendizado. Na
nossa vida social, quanto mais bem informados estivermos, mais preparados
ficaremos para interagir com o mundo e as pessoas. Com conhecimento _ e não
pedantismo _, você se torna uma pessoa cada vez mais interessante _ para si
mesmo e para os demais. E se torna também um cidadão ciente de seus direitos e
deveres, pronto para contribuir com a sociedade de modo geral e usufruir também
de seus benefícios.
Em
termos de saúde, aprender também é benéfico; estimula várias áreas de seu
cérebro. A cada vez que você aprende algo, seja o que for, o seu cérebro está
fazendo sinápses, ou seja novas redes de neurônios estão se agrupando, o que
acaba compensando a perda natural de neurônios que se dá desde que nascemos e
se acentua com a idade. E acredito que nunca é tarde para aprender, desde que
você deseje, não importando para o que ache que vai ou não usar esse
conhecimento.
Espiritualmente, também acredito que o que aprendemos acaba, de algum
jeito, se incorporando a nós. Ninguém conhece exatamente os mistérios do mundo,
mas, a meu ver, estamos na Terra para aprimorar, "lapidar" a nossa
alma; para nos tornarmos seres melhores. Daqui nada se leva, mas acredito que o
conhecimento, sim, que ele passa a fazer parte de nós, como, se algum modo,
mente e alma tivessem uma ligação.
Além de várias razões até um
tanto subjetivas, o que aprendemos é usado de maneira prática, faz parte da
nossa vida pessoal e profissional. Só não acho que exista essa coisa de
conhecimento demais, desnecessário. "O saber não ocupa lugar”, como diz
uma amiga minha, lembrando-se das palavras do próprio e saudoso pai. Concordo.
Assim, quer você seja mestre, ou aprendiz, lembre-se que, enquanto estamos aprendendo,
estamos vivendo.